ENCONTROS REGIONAIS CÚPULA DOS POVOS RIO+31

A Rede Afroambiental inicia as atividades de 2023 com Encontros Regionais para articular e capacitar Povos e comunidades tradicionais e a sociedade civil em buscar saídas para a crise climática e propor uma “Agenda Climática” com tema: Ecologia, Cultura e Educação dos Povos pelo Clima.

Nosso objetivo é de construir essa Agenda Climática nos estados e municípios através da formação e articulação de lideranças de povos e comunidades tradicionais das 05 regiões do País numa série de encontros com a presença de autoridades que discutem mudança climática da perspectiva da cultura e educação e Ecologia Humana num percurso rumo à Cúpula dos Povos de Matriz Africana em 2023.

Na Cúpula dos Povos Rio+30, que aconteceu em novembro de 2022, no Rio de Janeiro, foi realizado um amplo debate apontando a necessidade de construir uma agenda ambiental para os povos de matriz africana, de acordo com a diversidade cultural e biológica do Brasil. Participaram gestores, professores, pesquisadores e ativistas ambientais.

A partir desse encontro, foram determinadas as ações prioritárias, que começam a ser implementadas. Entre estas ações, a primeira é a realização de encontros regionais para produzir uma agenda climática.

Eventos programados:

  • Região Nordeste:
    • (Fortaleza) 17 a 19 de março
    • Formação UNILAB 02 a 10 de Maio
    • (Bahia) Consultoria 10 a 16 de Maio
  • Região Sudeste:
    • (Rio de Janeiro) 01 a 06 de junho
    • Formação Itatiaia 31 de março a 04 de abril
  • Região Sul:
    • (Porto Alegre, Canoas) 25 a 02 de Maio
  • Região Norte:
    • (Pará) 16 a 23 de Maio
  • Região Centro Oeste:
    • (Brasília) 07 a 13 de Junho

Demais informações podem ser conferidas no Instagram da Rede Afroambiental.

A Pró-Reitoria de Extensão da UFC está envolvida nas ações estratégicas desta iniciativa.

Mostra de Cinema Outros Terreiros

A mostra de cinema Outros Terreiros do Festival Arte dos Povos, é uma realização da Rede Afroambiental que ocupará a Cinemateca do MAM entre os dias 4 e 6 de novembro com um olhar peculiar sobre produções audiovisuais de diversas épocas e com diversas abordagens, cruzando a ancestralidade, meio-ambiente e e a permanente busca pela desconstrução das narrativas.

Com obras raras como o documentário “Imagens do Futuro” do cubano Santiago Alvarez, passando pela premiada produção alagoana Cavalo, por filmes que retratam ícones do Axé como Mãe Beata e Chica Xavier, e pela obra referencial “O Veneno está na mesa”, a mostra fará um breve panorama de experiências e vivências comunitárias que estão representadas nas discussões da Cupula dos Povos Rio + 30.

PROGRAMAÇÃO

PALCO PRINCIPAL

Abertura da Exposição
Dia 3 – 19:30 horas
Imagem do Futuro
Santiago Alvarez


CINEMATECA

Dia 4 – 13 horas
O Veneno Está na Mesa
70′ – 2014 – Silvio Tendler

Dia 4 – 14:15 horas
A Boca do Mundo – Exú no Candomblé
26′ – 2011 – Eliane Coster

Dia 4 – 16:15 horas
Amuleto de Ogum
112′ – 1974 – Nelson Pereira dos Santos
Debate

Dia 5 – 13 horas
Jurema
16′ – 2014 – Clementino Junior

Dia 5 – 13:30 horas
Estamira
75’- 2005 – Marcos Prado

Dia 5 – 16:30 horas
Terras que Libertam
52′ – 2021 – Diosmar Filho
Debate

Dia 6 – 13 horas
A Cabaça da Criação
8’36” – 2007 – Antonio Gil Leal

Dia 6 – 14:15 horas
Cinzas da Floresta
75’ 2022 – André D’Avila

Dia 6 – 16:30 horas
Cavalo
85′ – 2021 – Rafhael Barbosa e Werner Salles
Debate

Observatório da Cúpula dos Povos+30: Cultura como quarto pilar da educação

Protagonismo dos sabedores orgânicos da natureza sob as lentes de pesquisadores.

Os povos e comunidades tradicionais de terreiro em parceria com a sociedade civil organizada, convidam pesquisadores e professores universitários para comporem o Observatório da Cultura como quarto pilar da educação, ação que se efetivará no contexto da Cúpula dos Povos + 30.

A Cúpula dos Povos + 30 será realizada de 02 a 06 de novembro de 2022, na abertura do mês da Consciência Negra na Cidade do Rio de Janeiro Esse evento marcará os trinta anos da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento do Rio de Janeiro, a ECO 92, da REDE AFROAMBIENTAL e do MIR-Movimento Inter-Religioso.

O Observatório da Cultura como quarto pilar da educação, na Cúpula dos Povos Matriz Africana Rio+30, visa criar um grupo de trabalho com professores e professoras universitários presentes na Cúpula, interessado na análise das discussões, que ocorrerão neste evento, sobre estratégias e caminhos de implementação de uma educação libertadora, que traga como base a cultura, que liga o conhecimento, a experiência estética, as artes e as espiritualidades, respeitando as diversidades de cultura e conhecimento que temos no Brasil, efetivando as Leis de Mestres e Mestras (Projeto de Lei 1176/11 e o PL 1786/11), a Lei Cultura Viva (Lei nº 13.018/14) e, campo da educação, as Leis que alteraram a LDB, inserindo a obrigatoriedade do ensino da história africana e cultura africana, afro-brasileira e indígena, as Leis 10.639/03 e 11.645/08.

Trabalhamos para que o conhecimento original da humanidade, de todas as raças unidas, possa estar dentro de uma academia inclusiva, dentro de uma academia que reconhece a identidade real de seu povo e toda a sua diversidade. Não encarar a diversidade como um empecilho, para isso que existe a universalidade, para isso que existe a ciência, para explicar o que a gente não compreende no primeiro momento.

(Pai Aderbal)

Quando estamos pensando neste percurso da Cultura como quarto pilar da educação, estratégias e caminhos , estamos pensando em uma transformação da educação, na transformação da academia na direção da cultura oral, um lugar de abertura da academia para os grandes traços da cultura oral e de forma mais direta e mais profunda para que nós nomeamos a cultura afro-brasileira, sobretudo a sua ancestralidade que ainda, no campo da academia e da educação, a gente está devendo tanto para esse universo oral para esse universo cultural.

(Sérgio Bairon)

Quando Hegel fala que não existe um processo civilizatório africano, quando traz as ideias com um processo de superioridade de um grupo em relação ao outro, de uma forma de ser estar no mundo como sendo a ideal para toda a humanidade, negando a diversidade e situando a África como selvagem, como plena de barbárie e sem pensamento crítico. Isso fica tão impregnado nas nossas universidades brasileiras que faz com que se tornem estreitas. Então, o sentido da oralidade não tem inferioridade nenhuma em relação à escrita porque o saber está dentro de nós e não está depositado num livro.

(Helena Theodoro)

Na ocasião da referida Cúpula dos Povos +30, propomos, com a criação deste Observatório, o estreitamento da relação de pesquisadores e professores, ligados institucionalmente às Universidades, com a Rede Afroambiental, no intuito de estabelecer um Observatório analítico in loco dos avanços na normatização real do conjunto dessas ações de restabelecimento da nossa cidadania e do respeito pela nossa produção cultural e intelectual, que certamente ocorrerão no decorrer do evento que se aproxima.

A proposta dessa parceria é de estimular essa base em um documento que fomente linhas de pesquisa nas Universidades, para que possamos superar essa realidade, implementar uma outra pedagogia, especialmente nos temas que contribuam com estratégias e caminhos que interliguem a diversidade cultural e biológica, com a ecologia humana, a comunicação, a ancestralidade e as mudanças climáticas. É preciso transformar a Universidade.

A proposta, portanto, desenhada como plano de trabalho, é que cada pesquisador possa trazer sua colaboração sobre o tema cultura e educação ambiental e alinhá-la ao seu testemunho e vivência na Cúpula, visando a produção de documentos por parte do Observatório. Ou seja, participar das discussões na Cúpula dos Povos Matriz Africana Rio+30, tendo como objetivo, também, a construção de documentos, artigos e um livro como resultado dessas discussões, que registre as discussões sobre como a educação é importante para barrar as mudanças climáticas, em uma perspectiva afro-diaspórica, indígena, de terreiro, dentre outras diversidades. Assim, a Rede Afroambiental vem convidar pesquisadores e professores universitários a construírem em conjunto este Observatório, que se alimentará das pesquisas e das propostas deste grupo, inseridas dentro de uma dinâmica maior, em construção, que é a da Cultura como quarto pilar da educação.

Terreiros Digitais são nossos tambores, a primeira internet do mundo

Terreiros Digitais são estações tecnológicas distribuídas em pontos de interação em rede nas cinco regiões do país. Construídos de forma colaborativa, em territorios vulneráveis, permitem o acesso à internet e às ferramentas que habilitam nosso povo à comunicação contemporânea, potencializando a comunicação comunitária e colaborativa. A conexão entre povos de terreiro que sempre existiu no mundo off-line passa, então, a dialogar online. E a partir do nosso olhar. 

A metodologia dos terreiros digitais foi desenvolvida a partir do reconhecimento da importância dos saberes ancestrais, bem como o seu valor enquanto ciência. Temas transversais da ecologia, da cultura e do conhecimento são compreendidos como tecnologias que foram passadas através de gerações por mestres e mestras. Com as ferramentas digitais, os terreiros conectados estabelecem relações intergeracionais que permitem abordagens contemporâneas de nossas tradições.  

As estações digitais permitem interação em tempo real e a participação ativa das atividades e percursos promovidos pela Rede Afroambiental. Com o mapeamento dos espaços cria-se, de maneira colaborativa e sustentável, áreas de produção, de comunicação, de economia solidária e ações para proteção ao meio ambiente e à nossa cultura. O site da Rede Afroambiental e toda a articulação preparatória para a Cúpula dos Povos, da Rio+30, já é resultado dessai interatividade. 

Nosso objetivo é implementar uma comunicação com outro olhar – um olhar da cultura, com o olhar da arte, com o olhar da literatura – dentro de uma ancestralidade e uma corporeidade que se contrapõe a um sistema de poder que inviabiliza, impede e invalida saberes produzidos pela maioria da população brasileira. 

Nossa comunicação vem de longe, pois o tambor, para os povos e comunidades tradicionais de matriz africana, é a primeira internet do mundo. Ele carrega o poder agregador da memória, essa memória coletiva que nos faz sentir fazer parte de uma família.

Nossos ancestrais escravizados, vindos de diferentes lugares da África, se comunicavam por olhares nos navios negreiros. A comunicação estabelecida, um texto sem palavras, também existia nas senzalas, no Correio Nagô e existe até hoje. Está nos terreiros, nos nossos corpos.

Estamos atualizando nossas conexões e ampliando a capacidade de circulação dos bens simbólicos, produtos, serviços culturais e artísticos dos povos e comunidades tradicionais de matriz africana. Precisamos saber a receita do angu para, em seguida, adicionar dendê e pimenta. Os Terreiros Digitais retomam o discurso de nós sobre nós mesmos.

Juventude – Nossos passos vem de longe e nossa missão é construir o futuro

Criada em 1992 por Mãe Beata de Yemanjá, a Rede-afroambiental abriu caminhos e construiu um legado para sua comunidade, Ilê Omiojuaro, e os povos de tradicionais de matrizes africanas. Por acreditar em um equilíbrio na relação homem-natureza, nessa trajetória que já dura 30 anos, a Rede tem atuado em defesa da vida e da preservação dos recursos naturais de modo a combater também, o racismo religioso e ambiental. 

Reconhecer esse legado também significa querer levá-lo adiante propondo um diálogo geracional e tecnológico fundamentado na ancestralidade. Para isso, a Rede tem se dedicado à nossa formação, jovens de terreiro. 

Ao pensarmos em juventude é comum que pensemos apenas em futuro. No entanto, quando os jovens pertencem as religiões de matrizes africanas, o futuro não existe sem o passado. Para nós, jovens de terreiro, não existe a possibilidade de construir um futuro sem dialogar com os nossos mais velhos, mestres e mestras. 

Os nossos passos vem de longe e beber na fonte desta sabedoria é valorizar o saber e o tempo daqueles que nos antecederam. Assim como Sankofa retorna ao passado para modificar o presente e construir o futuro, nós jovens de terreiro da Rede-afroambiental fomos convocados pela ancestralidade, através do mestre Aderbal, a modificar o presente desta sociedade e construir um futuro junto da/com a Rede.

O nosso grupo se constituiu a partir de diversos caminhos… Alguns de nós chegaram até a Rede através da universidade, outros do laço familiar e religioso e também, do movimento negro. Ao todo somos oito jovens de diferentes idades, formação acadêmica, estados e terreiros; e acreditamos que essa heterogeneidade é/será o nosso diferencial na construção de ações voltadas para a educação ambiental, transformação social, cultural e politica da juventude.

Diante de um cenário global instável em que se predomina um sistema politico-econômico que nos é nocivo, se faz urgente lutar pelo bem estar social, cultural e econômico da população negra e indígena. Assim, nossa missão é dar continuidade ao legado da Rede construindo um futuro onde os nossos valores ancestrais preservam a vida e o meio ambiente.

Mariana Maiara

É Cientista Social , fotógrafa e mestranda em Antropologia. Atuou na área educacional, foi assistente de Januário Garcia. Atualmente é colunista e responsável pela curadoria fotográfica da coluna Olhares Negros no Congresso em Foco, é abian e responsável pelo acervo fotográfico do Ilê Àjagúnà Asé Ògún Mejéjé. Para além da pesquisa científica, desenvolve dois projetos afrocentrados de documentação fotográfica.

Karine Camargo

Gaúcha natural de Porto alegre, tem 24 anos e é estudante de Ciências Sociais e de Publicidade. Atua como diretora do departamento da Juventude da Associação Satélite Prontidão e milita pelo coletivo Afronte.

Gabriel Nunes

Jovem do Santo Daime e integrando do Coletivo Florescer da Nova Era. Tem gosto por aprender a zelar a reza e o canto na Doutrina. É graduando em Serviço Social e pesquisador do Dicionário de Favelas Marielle Franco, plataforma virtual para reunir histórias de favelas e periferias. Tem interesse pelo tema da memória social e oralidade.

Noan Moreira

Baba Ọtun n’ilẹ (Babá Otún Nilê), guardião e pessoa de confiança da comunidade, do terreiro Ilê Omiojuarô – comunidade fundada por Mãe Beata de Iemanjá, sua avó. Artista, Músico, Multi-instrumentista e pesquisador. Atualmente compõe a equipe de museologia e montagem do Museu de Arte Moderna (MAM), atua na área de montagem de exposições desde 2017, quando integrou a equipe do Museu de Arte do Rio (2017-2020).

Rebeca Queiroz

Integrante do Santo Daime e do Coletivo Florescer da Nova Era. Estudante de Psicologia, desenvolvendo a escrita de poesias, canto e fiscalização na Doutrina, aprendendo a tocar tambor para compor a música nos trabalhos espirituais. Interessada na história da Doutrina e em terapias com substâncias psicoativas.

Odaraya Mello

É neto de OluMello, pioneiro e artista-visual, desenhista na Nova Cap (DF).Sua formação crítica e artística inicia num berco familiar detentor de um patrimônio cultural que viveu o movimento negro afro-brasileiro e do movimento de mulheres negras do Brasil (1950/1980). Pessoa polímata e divergente bio-sócio-cultural. Seus afrografismos organizam elementos semióticos da natureza do culto a Oxum, orixá de iniciação(1994).

Ogunifé

Pernambucano morador do cerrado brasiliense, Ògúnifé é Yawô de Ògún da família Ìle Àse Odé Erínlè, de Águas Lindas de Goiás. Músico de formação e produtor literário desenvolve projetos que buscam fomentar formação ecológica junto e a partir das perspectivas dos povos e comunidades tradicionais de matriz africana. Afro-ambientalista e educador ambiental, hoje estuda Agroecologia e vem desenvolvendo projetos de construção de biodigestores e desenvolvimento de agricultura familiar em terreiros de Candomblé com foco na Segurança e Soberania Alimentar e Nutricional dos povos de terreiro.

Dandara Santos

Me chamo Dandara e sou uma mulher cis, negra, carioca, de candomblé e dançante da cultura popular e de dança afro. Me formei professora de Geografia (Licenciatura em Geografia pela UFRJ em 2020) com trajetória de pesquisa e atuação no campo da educação e relações raciais e as geografias do racismo. Hoje sou mestranda em Antropologia (PPGA/UFF) no âmbito da Antropologia política, com pesquisa voltada para investigação de conflitos étnico-raciais-religiosos, que configuram o racismo religioso.